Em meio à rotina agitada do Aeroporto Internacional de Brasília, uma mobilização silenciosa, mas poderosa, pretende chamar a atenção para um crime que acontece longe dos olhos, mas perto de todos: o tráfico de pessoas. Nesta terça (29) e quarta-feira (30), a Secretaria de Justiça e Cidadania do Distrito Federal (Sejus-DF), em parceria com a Inframerica e com o apoio da Organização Internacional para Migrações (OIM), promove uma ação especial de conscientização no terminal brasiliense, como parte da campanha global Coração Azul, criada pela Organização das Nações Unidas (ONU).
A iniciativa marca o Dia Mundial de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas, celebrado em 30 de julho, e busca alcançar milhares de passageiros com informações, materiais educativos e orientações. Na terça, além da distribuição de panfletos, ocorre uma capacitação voltada para os funcionários do aeroporto, que aprenderão a identificar sinais de exploração e saber como agir diante de situações suspeitas. Já na quarta-feira, as ações ocorrem das 6h às 11h, com foco no público que embarca nas primeiras horas do dia.
“Estamos falando de uma prática extremamente perversa, que se aproveita justamente de quem está em situação de fragilidade. Por isso, investir em informação e prevenção é essencial para proteger vidas e enfrentar essa rede criminosa”, afirma a secretária de Justiça do DF, Marcela Passamani.
A mobilização acontece em um local estratégico. O aeroporto, por onde circulam milhares de pessoas diariamente, é também uma das principais rotas utilizadas por redes criminosas que exploram vítimas para fins de trabalho forçado, exploração sexual, adoção ilegal ou tráfico de órgãos. A presença de equipes especializadas da Sejus, da OIM e do Comitê Distrital de Enfrentamento ao Tráfico de Seres Humanos reforça o esforço em alertar e orientar tanto o público quanto os profissionais que atuam no local.
Os números mais recentes confirmam a urgência do tema. Segundo o Relatório Nacional sobre Tráfico de Pessoas de 2024, os Centros de Referência Especializados de Assistência Social (Creas) atenderam 362 vítimas do crime, a maioria homens (57,2%), embora o perfil feminino continue entre os mais vulneráveis. Já o Ministério da Saúde registrou 304 atendimentos relacionados à violência sexual e à exploração, com 62,8% de vítimas mulheres. No Distrito Federal, oito pessoas já foram atendidas neste ano pela rede de proteção. O Disque 100, canal nacional de denúncias, aponta uma média de mais de um caso por dia no país.
A campanha Coração Azul, que dá nome à mobilização, usa o azul como símbolo da dor das vítimas e da frieza dos criminosos. Em 2024, a iniciativa integra a 11ª Semana Nacional de Mobilização para o Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas, com o tema “Tráfico de pessoas é um crime organizado: acabemos com a exploração”. A mensagem é clara: o tráfico não é um crime isolado, mas parte de redes globais que operam com estrutura, lucro e impunidade e precisa ser combatido com inteligência, articulação entre instituições e participação da sociedade.
“Ao conscientizar e capacitar as pessoas que circulam e trabalham em locais estratégicos, como os aeroportos, estamos criando barreiras reais contra esse tipo de crime. Essa mobilização representa um passo importante na construção de uma rede mais preparada para proteger as vítimas e impedir que novas violações aconteçam”, conclui Passamani.
A ação educativa no aeroporto é mais do que uma campanha. É um alerta. E, principalmente, um chamado para que cada cidadão seja parte ativa no enfrentamento dessa realidade, que muitas vezes se esconde à vista de todos.