DF ganha seu primeiro centro dedicado ao autismo e lança ferramenta de saúde mental com IA

Unidade inédita atenderá crianças de até 10 anos com TEA; plataforma SAMia amplia acesso, identifica riscos e orienta usuários aos serviços adequados da rede pública

O Governo do Distrito Federal inaugurou, nesta terça-feira (9), duas iniciativas consideradas históricas para a ampliação da rede de atenção psicossocial: o primeiro Centro de Referência Especializado em Transtorno do Espectro Autista (Cretea) e o Serviço de Assistência em Saúde Mental com Inteligência Artificial (SAMia). As ações marcam uma nova etapa na política pública voltada à saúde mental, especialmente na oferta de diagnóstico e acompanhamento para crianças com TEA.

Durante a entrega do Cretea, instalado na Estação 108 Sul do Metrô, a vice-governadora Celina Leão afirmou que o DF finalmente inicia a construção de uma rede contínua e estruturada para atender esse público. “O que inauguramos hoje não é apenas um prédio, é o início de uma mudança de lógica. O DF terá três centros como este, distribuídos para facilitar o acesso. Passamos anos discutindo essa demanda e agora ela está virando realidade”, disse. Celina também confirmou que a Secretaria de Educação criará espaços semelhantes dentro da própria pasta: “A criança não pode esperar. É por isso que estamos integrando as políticas”.

O novo centro recebeu investimento de R$ 747.095,61, provenientes do Metrô-DF e de emenda parlamentar do deputado distrital Eduardo Pedrosa, e foi totalmente reformado para atender crianças de até 10 anos com transtorno do espectro autista. O espaço reúne equipes multiprofissionais formadas por psiquiatra, neuropediatra, pediatra, psicólogo, fisioterapeuta, fonoaudiólogos e assistente social. A estrutura inclui oito consultórios, ginásio terapêutico, sala multissensorial, espaço lúdico, sala de grupo e até uma cozinha terapêutica, ambientes que centralizam diagnóstico, intervenção e orientação às famílias.

Segundo o Censo do IBGE, o DF tem 34,1 mil pessoas diagnosticadas com TEA, o que reforça a necessidade de unidades especializadas. Para o secretário de Saúde, Juracy Cavalcante Lacerda Júnior, o Cretea deve reduzir o tempo de espera e aprimorar o fluxo de atendimento na rede. “Por muito tempo, o diagnóstico demorava mais do que deveria. Agora teremos um local pensado para acolher, avaliar e acompanhar essas crianças com rapidez e cuidado”, afirmou. Ele destacou que o centro funcionará também como polo de capacitação: “Queremos que toda a rede esteja preparada, não apenas esta unidade”.

A inauguração emocionou famílias que convivem com o autismo. Marcelo Ribeiro dos Reis, pai de um menino autista e fundador do grupo Lutadores do Gueto, descreveu o momento como um divisor de águas. “Pra quem vive essa rotina, isso aqui é esperança pura. Brasília nunca teve uma estrutura completa como essa. A gente acorda todos os dias tentando garantir terapia, diagnóstico, orientação… Agora temos um lugar que concentra tudo”, relatou. Ele complementou: “É um alívio que chega atrasado, mas chega com força”.

O presidente do Movimento Orgulho Autista Brasil (Moab), Edilson Barbosa, reforçou que o centro preencherá uma lacuna histórica. “Temos mães esperando laudo há anos. Crianças que nunca conseguiram iniciar tratamento. Esse centro muda o jogo. É o começo de uma resposta que as famílias sempre pediram”, declarou.

Além da inauguração do Cretea, o DF apresentou o SAMia, plataforma digital pioneira que utiliza inteligência artificial para triagem em saúde mental. Totalmente gratuita, a ferramenta analisa sintomas com base em escalas validadas e orienta o usuário ao serviço adequado, como Caps, ambulatórios especializados, unidades hospitalares ou apoio psicossocial. O sistema também oferece exercícios de respiração, meditação guiada, conteúdos de autocuidado e orientações específicas para mulheres em situação de violência.

O secretário Juracy Lacerda destacou que a tecnologia foi pensada para facilitar o acesso e antecipar o cuidado. “A pandemia deixou marcas profundas. Precisávamos de um instrumento que enxergasse rápido quem está em sofrimento. O SAMia faz isso em segundos, de forma segura, responsável e humana”, explicou. Ele também ressaltou que a plataforma gera indicadores estratégicos que auxiliam no planejamento das políticas de saúde mental. “É gestão baseada em dados, algo essencial para melhorar a rede”.

Seguindo a legislação distrital e a Lei Geral de Proteção de Dados, o sistema não coleta informações pessoais dos usuários. Os dados processados são utilizados apenas para a organização da rede e a definição de estratégias de atendimento.

Para as famílias, a soma das duas entregas, o centro físico e a ferramenta digital, representa uma mudança concreta na forma como o DF cuida da saúde mental. “É uma sensação de que, finalmente, a política pública chegou onde deveria”, resumiu Marcelo Ribeiro.

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